O Prof. Doutor Duarte Araújo, relata:
Dia mundial do cancro do pulmão, 1 de agosto
Boaventura da Cruz, 53 anos, advogado.
Fumador desde os 14 anos, há muito que, erradamente, havia considerado como normal a tosse e a expetoração com que acordava todos os dias. Porque começou a cansar mais que o habitual e a expetoração a aparecer às vezes raiada de sangue, consultou o seu médico e fez uma radiografia do tórax. Nessa altura ainda não sabia que a sua vida mudaria radicalmente, e que começaria então uma via-sacra para médicos e hospitais, com exames, consultas, mais exames, mais consultas, para não falar dos tratamentos. A esposa sabia que a compra do apartamento novo nunca era para ir para a frente, os filhos mais novos que iriam ter dificuldades em pagar as propinas, e os amigos diziam que bem o tinham sempre avisado, que fumava demasiado.
Boaventura, que deixou à pressa de fumar logo que o pneumologista suspeitou do diagnóstico, achava que ainda ia a tempo, e fazia planos para o futuro: afinal há doentes que duram muitos anos, com tantos medicamentos novos que tem aparecido!
A família rezava, no entanto, para que chegasse ao próximo Natal, e a filha mais velha antecipou o casamento, para o pai a poder levar ao altar.
Faleceu no dia 23 de dezembro de 2022. Entre as dores ósseas e a falta de ar das últimas semanas, ninguém suportava já tanto sofrimento.